Assassina, Assassina!! Gritavam os malditos esperançosos com mantras entre os lábios.
Ah! Se soubessem que matei a mim. E se não os coloquei naquele chão frio e fétido foi porque não valem sequer um olhar de bajulação covarde para mim.
Haveria de lidar com meu olhos penetrando em mim como dois facões afiados a rasgar-me.
Não me regozijaria com dizeres de piedade.
Eu sou assassina de minha própria vida. Ou de uma vida que deram a mim.
Me deram uma vida que não pedi.
De longe olhei pra ela com um desdém confortante, mas manipulada fui conduzida a dar-lhe a mão e sair por aí.
Fechei os olhos e a acompanhei como quem simula contentamento de si.
Um dia vi carregando sobre meus ombros a tal vida que deram pra mim.
Sorri sem graça para os que passavam por mim. Todos com covas prontas para o enterro de si, mas sorriam laconicamente como quem desdenham-se.
Cavando os próprios túmulos todos os dias cruzavam entre si.
Só eu enxergava os pesos acoplados em suas costas ou eles também o viam em mim?
Sorrateiras vidas ainda riem entre si. Procura-se um outro para esgueirar-se de si. Duas vidas sendo carregadas. Seria a imagem de quatro farsas a fingir?
Palco de ilusão: uma vida que inutilmente não me pertence.
Entende agora o assassinato?
Eu não poderia matar- me. Não há suicídio aqui.
Assassina. Gritem bem alto.
Eu matei uma vida que não era minha. Não era eu ali.
Eu olhei para o espelho e vi uma paralítica deformada em cima de mim.
Ordenei que andasse, mas ela nem se mexeu pra mim.
Ordenei que mudasse, mas ela baixou a cabeça com ares de vítima pra mim.
Ordenei que vivesse, ela cravou a unhas em minhas costas com medo de si.
Um dia cansada de suportá-la dei-lhe a morte de presente e ela sorriu pra mim.
Assassina, Assassina!!
Sim, sou assassina de uma vida que não pertence a mim.
Não haveria de fazer conchavos com dias já mortos como quem finge viver.
Somos todos assassinos, meu caro. Apenas alguns não fingem até o fim!
Aranda l”
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