sábado, 31 de março de 2012

Olho pela janela e não vejo o céu, não vejo nada além do muro, nem sei o que vem por ai, nem como me preparar, mas daqui sinto... Sinto o clima frio, esta escuro, sinal de chuva e isso da vontade de escrever, fazer acontecer, desatar o nó, tocar vidas... A minha vida!
Por mais que eu não veja, a olho nu, ainda sinto. Meu coração e minha alma têm balança, vontades, um milhão de sensações e ainda aquele friozinho na barriga inexplicavel que me faz sentir viva' e posso dizer que é sensacional. Pensei agora em algumas canções, aquelas que marcam... e que fiz questão de esquecer, lógico que tentando esquecer me lembro a todos os instantes, tenho andado muito lúcida e isso às vezes machuca.
             Hoje posso dizer que sou madura... como uma 'adolescente na puberdade'. Aquela alegria com o novo, o desconhecido batendo em minha porta, varias perspectivas, possibilidades, tantas descobertas, mas logico... as vezes acompanhadas por uma bifurcação.
Sabe, escrevendo vejo o quanto ainda existe vida em mim, um coração quente que bate acelerado, que quase tem vida própria. Isso não é ruim e fico imensamente feliz em ser assim. Sou o Sul e o Norte da minha vida. Tenho percorrido um longo caminho, por vezes difícil, nele há luz, mas às vezes me perco diante da escuridão, das pedras e dos imensos buracos! Cai dentro de alguns, muitas vezes, e digo com toda firmeza que meus joelhos são esfolados... Sai de todos com maestria - com a mesma intensidade que cai – reviravolta. Cicatrizes ficam, mas ficam somente para nos lembrar que o passado foi embora e que você pode recomeçar!
Sei que ainda tem um bom caminho a ser percorrido nesta estrada, e sinceramente não sei o que vou encontrar, aliás... Nunca se sabe. A única coisa que sinceramente sei é que não quero atalhos. Venha o que vier com toda força porque estou aqui para enfrentar.
Independente de toda minha lucidez ‘cega’, independente dos muros em minha janela... Tenho vida e ela esta latente aqui dentro de mim.

Por Kelly Luisa

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sem título



      Se tem algo que detesto como pseudo escritora que sou, é escolher um título pra todo e qualquer texto que faço. Livros, crônicas, textos, até meras publicações clamam por um rótulo. Os blogs antes de postar textos pedem que o nomeiem. Obrigatório intitular diz a regra textual. Qual necessidade de um título? Podes até dizer que serve para que tenhamos interesse em lê-los. Escolheríamos pelo título o que ler? Necessitaríamos ser guiados por um título para escolher o que supostamente é mais interessante pra ser lido? A meu ver equivaleria escolher o livro pela capa. Ora, pergunto: - Escolhes conversar com alguém pelo seu nome? E partindo desse princípio, tendo o nome dessa pessoa chamado tua atenção por qualquer motivo que seja, seria ela verdadeiramente interessante?

     Títulos, eu verdadeiramente os detesto. Talvez por incompetência minha mesmo, é bem verdade, já que tenho enorme dificuldade de formulá-los. Em dúvida escolho vários e acabo ficando em dúvida justamente por tê-los. Por vezes vários valem nenhum, outras vezes basta apenas um que ouço gritar repentinamente, mas é raro. Coisa rara de ser ver.
   O que acontece mesmo é terminar um texto e ficar tempos e tempos pensando que título colocaria ali. Ora, penso eu que se é pra escolher um tema que não se escolha um medíocre e isso me consome. Passo mais tempo pensando no título do que fazendo o texto. Tamanha impaciência gerada dá vontade de sair por aí perguntando as pessoas, por vezes até a vontade é de escolher uma palavra qualquer do texto, jogar lá em cima e esquecer que ele existe. Afinal, que grande importância o título tem? Pra mim, nenhuma.
   Tal qual pessoas, pouco me importa como se chamam, quero vasculhar como elas são.
   Ironicamente, já penso que colocarei neste texto o título de "sem título". A verdade é que ainda fiquei em dúvida, pensei em deixar literalmente sem nenhum título. Mas fascinada que sou pela ironia intitularei como "sem título", mesmo sabendo que isso o fará ter um título. Não se assuste, meu caro, se atente ao início do texto, lhes disse que sou apenas uma pseudo escritora. Quando tornar-me uma, farei um livro sem título. Terminantemente sem nada escrito na capa, mas preenchida de uma infinita totalidade em seu conteúdo. Tal como eu.
                                                                                                  
                                                                                              
                                                                                    By Aranda l”

segunda-feira, 19 de março de 2012

Scribere

                                                                     

                                                                         


Ligo o computador. Mais uma tentativa. Tela em branco.
...
Dou-me conta de que só na identidade sou jovem.  A pseudo escritora que vos fala não consegue escrever um texto na tela do computador. Sim, quase massacrante sentar a sua frente, quase mortificante ver o Word ficar lento, o texto sumir e, de repente todo aquele rompante de translúcida lucidez que até a mim deixa impressionada, se esvair. Eu e o computador não nos damos bem. Ás vezes acho que sou rápida demais pra ele. Ou seria eu lenta demais pra entender o contrário?!
Vai saber. Aliás, quem quer saber disso. Nem eu mesmo quero.
Eu gosto mesmo é do velho papel e caneta. É de lá que sai a obra lapidada, nem que seja gastando uma resma de papel, nem que seja pra copiar e recopiar mil vezes o mesmo texto em frenético rascunho incessante.
São através dessas malfadadas letras rabiscadas que me encho de prazer. Andarei com elas pra onde for. Não preciso esperar ligar, abrir, colocar senha no computador. Basta-me abrir meu caderno e elas estarão lá. Não as vê? Pois eu as vejo. Vejo tal quais letrinhas saltando do papel e vindo em minha direção. Algumas querendo serem corrigidas, outras revistas, outras admiradas, outras tantas apenas querendo ser vistas e/ou ouvidas. Mas o que eu quero mesmo é que elas sejam sentidas.
Tal qual as uvas pisoteadas inúmeras vezes pra chegar a perfeição do vinho, saiba que eu simplesmente não as deletei e reiniciei. Eu as risquei, recomecei, apaguei (com  a velha e boa borracha), refiz, peguei outras e tantas folhas e comecei de novo, e de novo, e de novo pra dar-lhes o que há de melhor delas.
Minto.
Nessas horas percebo a juventude galopando em direção em mim. Pois, se lhes digo que confessarei uma verdade, não se engane, não será por puro altruísmo, farei em nome de meu ímpeto da mocidade que cheira a orgulho estufado no peito. É, menti pra vós. Se lapido meus textos feito uma maníaca em busca da perfeição, saiba que nunca foi por elas. Nem tão pouco ousem delirar que por vós. Eu faço por mim, apenas para mim.
Não entendes?! Elas me atormentam. Escrevê-las me liberta.
...
Pronto. Olho pra tela. Um brinde ao meu primeiro texto à La modernidade?!
Se tivesse no papel eu o rasgaria. Sinta-se à vontade para deletá-lo.
...
Lassidão.

                                                                              By Aranda L'ima.

sexta-feira, 16 de março de 2012



Ah! Como é adorável a raiva!
Aquela que chega ao limite da paciência,
E outrora implodida diversas vezes,
Explode em palavras

Sim, são as palavras impiedosas
Que verdadeiramente me fascinam
Há nelas tanta verdade omitida
Ó odiadas palavras raivosas

Como podes ser condenada
Se não há falácias em seu discurso?
O seu crime estaria na ocasional explosão de fúria
Ou estarias inocentada se fosses caprichosamente dita diariamente?

Estarias assim pronta para seres ouvida?
Serias bem recebida?
Maldita corja de covardes!
Com prazer enfiar-lhe-eis atrozes verdades.

  By Aranda L'ima.

De Per Si





Não me coloque rodeada de pessoas e espere que converse horas a fio.

Eu?! Eu só faço rir!

De conversas sérias a amenidades só converso com profundeza comigo mesma.

Vou dissipando inteiramente o outro entre um riso e outro e me auto conhecendo.
  
                                             
                                                                                            By Aranda L'ima.

                

domingo, 11 de março de 2012

Na minha janela

Olho pela janela e não vejo o céu, não vejo nada além do muro, nem sei o que vem por ai, nem como me preparar, mas daqui sinto... Sinto o clima frio, esta escuro, sinal de chuva e isso da vontade de escrever, fazer acontecer, desatar o nó, tocar vidas... A minha vida!
Por mais que eu não veja, a olho nu, ainda sinto. Meu coração e minha alma têm balança, vontades, um milhão de sensações e ainda aquele friozinho na barriga inexplicável que me faz sentir viva' e posso dizer que é sensacional. Pensei agora em algumas canções, aquelas que marcam... e que fiz questão de esquecer, lógico que tentando esquecer me lembro a todos os instantes, tenho andado muito lúcida e isso às vezes machuca. 
Hoje posso dizer que sou madura... como uma 'adolescente na puberdade'. Aquela alegria com o novo, o desconhecido batendo em minha porta, varias perspectivas, possibilidades, tantas descobertas, mas logico... quase sempre acompanhadas por uma bifurcação.
Sabe, escrevendo vejo o quanto ainda existe vida em mim, um coração quente que bate acelerado, que quase tem vida própria. Isso não é ruim e fico imensamente feliz em ser assim. Sou o Sul e o Norte da minha vida. Tenho percorrido um longo caminho, por vezes difícil, nele há luz, mas às vezes me perco diante da escuridão, das pedras e dos imensos buracos! Cai dentro de alguns, muitas vezes, e digo com toda firmeza que meus joelhos são esfolados... Sai de todos com maestria - com a mesma intensidade que cai – reviravolta. Cicatrizes ficam, mas ficam somente para nos lembrar que o passado foi embora e que você pode recomeçar!
Sei que ainda tem um bom caminho a ser percorrido nesta estrada, e sinceramente não sei o que vou encontrar, aliás... Nunca se sabe. A única coisa que sinceramente sei é que não quero atalhos. Venha o que vier com toda força porque estou aqui para enfrentar. Independente de toda minha lucidez ‘cega’, independente dos muros em minha janela... Tenho vida e ela esta latente aqui dentro de mim.

Por Kelly Luisa

quinta-feira, 8 de março de 2012

SOLILÓQUIOS

Enjoy The Silence
               
      Perguntara-se internamente: VIVA OU MORTA?
      Não fora preciso pensar muito. Há tempos se sabia uma morta viva. Por mais que ousasse ser uma vivente não há nada que a ressuscitasse dessa sobrevida.
     Havia nisso tudo um pessimismo tão verdadeiro que seria tolice trocá-lo por um otimismo forçadamente fingido.
     Repudiava os simuladores de otimismo que numa necessidade quase doentia de estar sempre felizes tentam copiosamente mostrar a suposta felicidade.
    Imaginava-os como palhaços: acordavam, colocavam sua pintura/máscara de felicidade e saiam dando um alto, sonoro e estridente bom dia, afinal a vida é linda(leia-se ironicamente). E passavam o dia no convívio social tão estapafurdiamente de bem com a vida que somente aqueles habituados a seus antolhos não viam tamanha e cínica carência revestida da necessidade de ser aceito.
     Mas, pensava ela, diferente do palhaço que pintava a cara para ganhar dinheiro, aquelas pessoas iam chegar em casa à noite, talvez, até cansados de si mesmo e da falta de vida em suas vidas, e se deparar com a realidade. Sozinhos, mesmo que a dois, em frente aos seus computadores esperando algo acontecer em suas vidas, até mesmo receber um mero telefonema de quem quer que fosse. Quem sabe esperando um amor, ou mesmo qualquer um que fosse, desde que lhes desse migalhas de um fingido amor. Estariam lá com ares de quem pesquisa algo, mas apenas esperando ansiosamente a luz do MSN piscar e ser a tal pessoa on line, e até varariam a madrugada esperando um mísero cumprimento pra iniciar a conversa, ou quem sabe, estariam a fuçar a vida alheia tal um voyeur desesperado, e tantos e tantos outros anseios que a tristeza não permitida poderia lhe suprir se eles a permitissem. E as sentindo, podiam, enfim, se auto conhecer.
     Porém, dizem por aí que ser feliz é o que importa, mesmo que ela seja mascarada. As redes sociais falam por si só. No virtual aclamado mundinho maravilhoso da felicidade se tem os melhores amigos, participa-se das melhores festas, tem-se o melhor trabalho, a melhor família, todos são bonitos, bem amados e resolvidos, vive-se a melhor vida e ironicamente há uma preocupada despreocupação em não se importar com que os outros pensam a seu respeito. É, por trás da tela do computador se pode tudo mesmo.
     Malditos os simuladores! Continuam mendigando atenção e nem sequer percebem.
    Chegava a sentir ânsia de vômito quando ouvia o hipócrita clichê: ”eu quero, eu posso, eu consigo”. Afinal, não é necessário só querer, parece ser quase obrigatório que todos saibam disso. E mais, é preciso transformar num lema ou numa espécie de mantra dito e repetido diariamente tal quais fórmulas reiteradas de salvação. Ora, mas dizem por aí que é “o segredo”!
    Pára por um instante e se indaga: É preciso mesmo tanto barulho?! Sabia ela que o comprometimento com si próprio trabalha em silêncio e sem platéia.
    Pessimista por natureza se descrevia como um zumbi que anda perambulando por esta vida.
    E você, caro amigo: Estás morto ou vivo?
   Ou andas fingindo tão bem que até a ti enganastes?


    By Aranda L'ima.

segunda-feira, 5 de março de 2012

À francesa


Entre olhares e dizeres encantadores, um convite para jantar. 

Ele vem me buscar em casa, abre a porta do carro, diz que estou linda.

Me olha com olhar penetrante, puxa a cadeira da mesa pra mim. 

Diante dele, um trabalhador, exercendo seu ofício noturno dignamente. Mal fizera os pedidos e já notas seu pretenso interesse a lançar um olhar de superioridade para o garçom.

Noite adentro, ele o trata como se fosse invisível, faz os pedidos sem sequer olhar pra ele. 

Já pra mim, lança uma feição delicada e sorri me contemplando. 

A mim, só restara o óbvio. Pedi licença para ir ao banheiro, saí pelos fundos e peguei um táxi.

By Aranda L'ima 


                                                    
                                                                                    
Que sujeitinha crítica mora dentro de mim
Vive o dia a exasperar-se com vis críticas sobre mim
Raiva dela?! Não seria legítimo possuir
Ela só existe por minha estúpida permissão!

                                                                                               
                                                                                                      By Aranda L'ima.

É madrugada


É madrugada, sem sono... Retrato raro nesses últimos tempos. Perambula um pouco pela casa. Nesse momento ninguém. Não há música. Não há barulho. O silêncio ecoa e a tristeza... Ah, desculpe - essa 'não' tem vez. Agora sentada, sente em suas pernas o vento frio que invade a janela do seu quarto. Na mesa alguns chocolates com a intenção de adoçar a vida e uma água com gás para amenizar. Respira fundo, fecha os olhos na certeza de que amanhã bem cedo o despertador será sua vontade súbita e irremediável de viver e ser feliz! Vem aprendendo com pessoas que passam pelo seu caminho o que nenhum professor, nenhuma doutrina conseguiria lhe ensinar! Turbilhões de pensamentos tentam lhe derrubar. Quase sempre fica abatida, não nega - É humana! (por ironia do destino, é sim). Ficar acordada, ocupa-la é um dos principais vetores de seus sonhos mais absurdos, porque deitar naquela cama - aquela testemunha de muitas noites, dias e anos... simplesmente faz ir longe, muito longe, só onde a imaginação consegue alcançar. Quando difícil, sempre se esforça para ir um pouco mais, aguentamos sim – ela afirma, sempre dá. Se perde constantemente... chora, desespera, mas crê - Isso fortalece. A vida da tapas na cara constantemente meu caro amigo e o pior, ela exige o outro lado da face também! 
Nesse momento... feliz e nem entende... Isso basta, ela tem motivos de sobra para ser assim, tão privilegiada e prospera foi escolhida a dedo em todos os sentidos - isso é verdade. Na mente a vontade avassaladora de falar de Fé atropela, não sabe o por quê... E daí?! Do tamanho de um grão de mostarda ou de uma formiga, não importa. O que interessa aqui é ter. Essa moça é moldada dia após dia, inúmeros defeitos, mas... Andando, tropeçando e aprendendo. Encantada, para não dizer assustada - 'encostada na parede' com o modo que a vida corre. Carrega dentro de si um turbilhão de coisas e ainda um imenso amor - isso simplesmente preenche num mundo sem prioridades e distorcido como o de hoje. Tantos precisam, independente de quanto tenham ou de quem sejam. 
Inclina o pé esquerdo em cima da mesa e sorri (aquele sorrisinho sarcástico, só dela) - olha para janela mais uma vez e respira aquele ventinho frio profundamente, e se pergunta: Porque esta aqui? Porque se expressar escrevendo?! (há tantas formas de se ser). Pergunta constante, quase que um dilema. E lhe diz com toda certeza: Não acha respostas para todas suas perguntas e nem sempre soluções para seus problemas e não se preocupa afinal, sabe que independente de qualquer coisa consegue tirar de letra o peso de sua alma! Subitamente‘Pearl Jam - Come Back toma conta do silêncio. Perfeito! Cruza as pernas e os braços, com uma das mãos na boca... Se mantém acordada mais uma vez.

Por Kelly Luisa
                                         

domingo, 4 de março de 2012

Testamento

            
               Ela tinha uma certeza. Certeza esta maior que a certeza da morte.
            Quando morresse queria ir se esvaindo lentamente ao som de uma melodia profunda e melancólica, percorrendo a imensidão dos horizontes e desaparecendo, desaparecendo.
             Iria sucumbir com a doçura que nunca tivera. E, por não tê-la, queria apenas que seus familiares mais íntimos e próximos a vissem dormindo o sono eterno. Fora estes, não aceitaria ser vista por ninguém em seu último leito, uma caixa grande de madeira.
          Não queria os olhares de outras insignificantes pessoas. Decididamente não os queria a olhando.  E não, a razão não era tola. Não os queria olhando por achar que eles mereciam recordar dela viva tão cheia de vida. Não! Ela não queria que a fossem olhar morta com desculpa de último adeus, quando em vida sequer tiraram alguns dias de suas míseras vidas para vê-la, e se viam, não a enxergavam.
          Compreensível somente para os entes achava estranho aquelas pessoas dando a última olhada, sussurrando palavras ao pé do ouvido, ou sei lá mais o quê, em um corpo sem vida. Perguntava-se se tal ato beirava a curiosidade, costume ou morbidez? Ora, pensava ela: Aprenda em vida a se despedir direito das pessoas. Pode ser a última vez que os veja com alma.
          Feche o caixão, berrava ela internamente. Se tiver que ser velada, que se faça com o caixão trancado. E se não houvesse ninguém, que não seus familiares, sabia que isso em nada a incomodaria. Já estaria morta mesmo. Mas a futura morta não morreria em paz se não fosse velada por seus entes.
         Que ficasse bem claro, não queria discursos inflamados de quem quer que fosse. Ela nunca fora afeita a falatórios. Palavras são só palavras. Não importava ouvir que a amavam, nem em vida precisava disso. Se a amavam ela sabia pelas atitudes diárias, não por um chulo e vazio: eu te amo.
        Quem  foi, o que fez, por quem fez, estando morta já não interessava mais. E se tivesse que importar, importaria apenas aos seus entes, e que eles guardassem na memória e no coração para mantê-la sempre viva dentro deles. Isso a bastaria.
       Mesmo morta não gostaria que seu gélido corpo fosse limpo e vestido por um estranho, mesmo entendendo ser este seu honroso trabalho.
       Queria que seu enorme e brilhoso cabelo fosse cuidadosamente penteado, dividido ao meio e colocado para frente em cima de seus enfadados ombros. No rosto uma leve maquiagem. Considerava irônico um leve rubor de blush em sua face pálida. E, embora  soubesse que seu corpo nada valia para onde ia, dizia em alto e bom som que ao menos serviria de belo banquete para as baratas.
       Sua alma chegaria ao seu destino flutuando como o sopro da brisa. E ela poderia, enfim, viver em paz.

By Aranda L'ima.