quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Teatralizando

Se eu não fosse essa perdida na vida
Daria uma excepcional atriz
Antagonista de minha própria vida
Se me visse atuando até acreditaria em mim

Ela diz que estou bem
Mal sabe o que se passa em mim
Se soubesse meus pensamentos teria medo de mim
Um pé do outro lado, outro aqui

Não há um dia que eu não pense em partir
Mas sou boa atriz
Visto o personagem
E mais um dia passa por mim

Quem me dera eu fosse realmente valente
Pra enfrentar a mim
Mas se eu o fosse
Já não estaria mais aqui

Subo no tablado e olho pra platéia
Lotada das muitas de mim
No fundo só uma não aplaude
É a verdadeira eu - longe de mim

Ela não cai no meu teatrinho barato
E forçando os olhos entreabertos encara-me
Apavora-me saber que ela sabe o que se passa dentro de mim
E que eu estou longe de me despir.




                                        By Aranda l”
                                                                                                        

sábado, 24 de novembro de 2012

Nada muda

Menina silenciosa
Expirou ar frio como névoa cortante a sair dos pulmões
E a cada ofegante respiração parecia ir expelindo a si.

Estava pensando em ir embora
Partir sem se despedir
Sucumbir ao infinito
Feito pó brilhante no universo

Vento frio assoviando pesar
Desesperança de uma vida miserável
Nada acontece, senhor destino!
Onde estás que me abandonastes sozinha aqui?

Há tanta vida lá fora
E nada acontece da porta pra dentro
Grito abafado
- Nada muda!

Senhor destino?
Uma cruel espetada fatal sobre meu peito
Senhora morte?
Um golpe de sorte sobre meus ombros

Onde estão desgraçados?
Que nada muda!

                  
                                                                                               
                                                                       
                                                                                      By Aranda l”
                                                                            

Um pacto pós-vida

Eu tenho uma dor aqui no peito
Que está longe de ser amor
Ou, quem sabe, seja amor demais
Amor de quem ficou
E quer partir

Bailando ao favor dos ventos
Entregue ao impulso do esvoaçar
Subindo e descendo - rodopiando
Tal qual folha de papel no ar

Manchete velha de um jornal qualquer
Vida desfeita por um golpe da morte
Dei-me um gole de vida
Encha meu peito de mim

Flertando com a senhora morte
Uma fina dor se alojou em mim
Era tristeza, enfim
Mas não era só isso que me doía
Era saber que era meu fim

Erga minhas pernas para o salto mortal
Empurre-me do precipício
Envenene-me
Mas me livre de apenas sobreviver sem ti.

                                                                       
                                                                                                 By Aranda l”

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

MORREMORRER


Encantada por palavras. Não havia um dia sequer que não abrisse o dicionário grosso e pesado, que repousa na sua cabeceira, à procura de uma palavra nova.
Dias desses, folheava-o vagarosamente e uma das centenas palavras a surpreendeu: MORREMORRER. Sim, assim tudo junto. Sim, existe.
 Literalmente falando, qualquer pessoa morre ao morrer ou é justamente por morrer que morre, mas o adorado livro deixa claro o que significa - há apenas uma única definição – e cabe até um leve tom cômico ao saber seu significado: morrer aos poucos.
É uma morte à conta gotas. Ironicamente, tal qual nossa vida.
Morremos um pouco a cada anoitecer; Amanhecemos mais próximos da morte.
Ousaria dizer que a vida não passa de um morremorrer – a cada dia menos um dia de vida.
Alguns dirão que não passo de uma pessimista. Eles, os otimistas se antecipariam para me corrigir: - A cada dia ganha-se mais um dia de vida.
Ora, sinto muito contrariá-los, mas não encontrei no dicionário nenhum viveviver!!



                                                                                                By Aranda l”

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O outro

Quão surpreendente é mesmo a escrita, ou quão surpreendente sou eu mesma diante de mim.
Ao escrever um texto pensando em outrem acabei encontrando mais de mim do que  imaginara. Desembalei numa sentada só a despir o outro e estufei o peito no fim.
Maldita paranóia incessante de ler e reler.
Fim de um começo.
A releitura acertou em mim.
Houvera meu inconsciente me pregado uma peça? Era eu ali.
Inevitavelmente eu falava de mim.
Pausa.
Releio mais uma vez. Eu concluo o texto subentendendo que eu era igual aquele a que tecia duras críticas vis. Não seria assim na vida real? Aqueles que mais criticamos são os que trazem mais da gente em si.
Surpreende esse total fora de controle da gente sobre nós mesmos.
Será que vivemos o tempo todo assim, à mercê? Criamos mecanismos de autoesconderijo dentro de nós mesmo – nos escondemos com medo do nosso próprio julgamento.
Eu só via o outro.
Agora vejo o outro em mim.
O que tinha eu a ver com o outro, senão me achar ali?
Na clandestinidade do confronto desço ao porão do eu. De mim. Sinto raiva. É frustrante ver que o desalmado a quem você se referia na noite passada como protagonista de uma vida sem graça é o espelho com rachaduras que você se olha todo dia ao acordar.
Imploro resposta de mim: Se eu não fosse eu, o que acharia de mim?

Silêncio
Complacentes com nós mesmos, seguimos, porque as desculpas parecem tão reais.



                                    By Aranda l”

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Curiosidade



Bendita curiosidade
Eu tenho sobrevivido nos arcabouços do meu eu
Espreitando por frestas minha própria vida.
Tem sido uma sobrevida, é um fato!
Apenas um figurante se assistindo na coxia
Película em preto e branco
Um livro com páginas em branco
Sem sentido
Dias desses o vento soprou e as folhas balançaram freneticamente
Foi-se o vento
Livro aberto numa página qualquer
Um trecho salta aos meus olhos:
"Quem diria que viver daria nisso?"
Intrigante
Aquilo parece ser o que salvaria minha vida
Ou o que me impulsionaria ao precipício
Até onde seria capaz de chegar ao me aventurar com braveza?
Em que eu iria me transformar ou poderia ser caso me enfrentasse além do que ousasse ser capaz?
Onde viver iria dar?
Instigante.
Eu estava disposta a vivenciar
Só para olhar para trás com um sorriso de canto
Para aquela que sou eu hoje!






                                                                                                   By Aranda l”

domingo, 4 de novembro de 2012

A cada dia me aproximo mais da morte
Não, não é a morte 'morrida' de todos nós
Falo da morte 'matada'
Não, não a morte que nos matam
É a morte que tu é o Deus

Escrava das muitas dentro de si
Vidas em uma vida não vivida
Entregue a ti, definhamento
Decreto-me alforria de próprio punho

Uma névoa sobre um corpo vazio
Leva uma alma vazia
Entorpecedora melancolia
Deus de mim
Que eu me livre de mim.

                                                           


                                                                                          By Aranda l”
         

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BREVE DISSABOR DA INSEGURANÇA

A verdade? Eu não estou pronta pra ser absolutamente nada.
Por qual motivo? Sou egoísta demais, insuportavelmente chata, tão excessivamente metida à madura que beiro à infantilidade, dona de uma misantropia estupefatamente prazerosa e... penso demais.
Penso.
Ando por entre os becos com ar de segurança. Olhares de canto moveriam bocas entreabertas a sussurrar: segura de si.
Encruzilhada.
Gargalhadas vociferam de dentro de mim.
No limite da loucura e da burrice, regozijo-me!

                                                                            By Aranda l”