segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Certezas







Olho-me timidamente no espelho.
Mal consigo me cumprimentar.
Talvez porque eu nem sequer me reconheça.
Teria o espelho uma passagem secreta para outro lugar?
Teria eu ido embora em uma dessas olhadelas? Partido sem olhar para trás?
Desconfio que fora entrando lentamente - como que nada quisesse ou como se tudo desejasse - parte por parte do meu corpo sumindo dentro de um quadro espelhado.
Quem era aquela que eu via?
Ela me causava repúdio, isso era inegável. Mas porque causaria?
Me aproximo mais. Parada em frente ao espelho olho no fundo dos seus olhos.
Por que me enganar com olhos reluzentes se dentro há tanta escuridão?
Minifaróis voltados para trás.

Desando dois passos.
Olho-me dos pés à cabeça. Ânsia.
Dou-lhe as costas. Respiro fundo.
Espio de canto de olho.
Quem era aquela?
Franzo a testa.
Quem eu era?
Era? Porque me pergunto no passado?
Eu deixaria de ser, então?
Saberia eu que no futuro eu não seria eu?
Futuro?
Espera um pouco. Ainda penso no futuro?
Ainda há esperança em mim?
Seria esse o motivo do repúdio?


                                                                                                        Aranda l”

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