terça-feira, 30 de outubro de 2012

APENAS UM DEVANEIO...

1.
Pena daquele jovem senhor. Vai fingindo que vai tudo bem com tamanha maestria que anda acreditando no próprio fingimento. Diz ele que é feliz com a vida que tem, mas anda sempre preenchendo suas supostas horas vagas com trabalho. Talvez, lá fora seja melhor que dentro. Talvez, suavize o peso dos dias sem graça. Onde ficou aquele garoto questionador com ares de revolucionário? Anda vagando com uma mochila nas costas, fone nos ouvidos, bem longe de ti. O dinheiro o corrompeu em algum cargo pomposo? Não, não creio. Sem saber ao certo o porquê, ainda enxergo uma fagulha, oscilando entre a faísca e a escuridão, dentro daquele ser. Sim, ele é humano. Não esqueçamos isso. O caminhar da vida, por vezes, faz a gente se perder de si. Ele teima em se ver como só emoção. Que emotividade é essa que percebe sua própria superficialidade e permanece no vazio? O passar das horas mortas não lhe pulsa sentido? O domingo em frente à TV não lhe grita que a vida anda a escorrer sobre seus dedos? Vida. Que vida ele anda vivendo? Quisera eu entrar na sua vida e sentir sua angústia silenciosa. Esse desassossego provaria minha crença: Por mais que tente ir simplesmente seguindo, o garoto ainda o habita. Melodia de guitarra numa roz rouca de tom melancólico. Aquelas letras te remetem a algo? Era essa vida que querias? Exatamente essa vida? Não entendes? Quase sempre é preciso mudar. Correr o risco da liberdade. Teme o preço que terás que pagar? Onde se perdestes que não queres pular mar adentro? Vês! O medo já lhe tomou. Há como ser responsável mesmo deixando para trás o que não te completa mais. Não me diga que já é tarde. Estais preso somente a ti. Experiência não tem idade. Aventurar-se, eis o triunfo do bem viver. Não adianta te acalmastes em mil templos, nem devorares escrito de sabedoria, para domar-se é necessária a fluidez do ser. Andas deixando de ser, não percebestes?

2.
Retoma-te!
Encontra o garoto instigador. Ele também procura por ti, é bem verdade. Jamais desprezaria tua maturidade. Porque desprezas aquele fino incômodo que diz que algo já anda perdido? Eu sei, eu sinto que tu desejas. E porque não arriscas? Talvez, ainda não estejas preparado. Mas, não se engane isso não me tira o pesar que sinto por ti. Viver não vivendo é uma afronta a tudo que mentalizas pela manhã. Preferes mesmo a monotonia? Eu já te vi como um mar calmo e escuro, misterioso. Era, ou ainda é, essa impressão que tentas passar. Tenta. És um mar calmo, sim. Na parte rasa, apenas, meu jovem. Mar translúcido. Tua profundeza te revela: redemoinhos bailam dentro de ti. Um pouco de mansidão é fundamental, mas não confundas com ‘mornidão’. Aceitar o morno é um pacto de covardia. Não espero ter ver como covarde. Imagino, por vezes, que estais apenas sendo cauteloso. Mas saibas que cautela em demasia, meu caro, é perda de tempo. Se te achas velho, imagina quanto tempo estais perdendo. Não és velho na idade, nem no rosto marcado de rugas - sabes eu acho lindo esse carimbo do tempo em sua face - Pouco me importa se és belo ou feio, se és velho ou novo. Estou presa na sua mansidão com ares de quem sabes além de mim. De quem sabe além do que ainda tenho para viver. Sabes mais da vida, mas anda esquecendo-se de vivê-la, és velho assim. Meu jovem senhor resgata o garoto. Não se perca com o passar do tempo. Não se perca de si. Se quiseres pensar na idade, pensas o quão repugnante é o homem vivido como tu, na sombra de si. Preso em seu quadrado sonhando além dos muros. Imaginar é uma arte, mas quando se fala de vida, é apenas uma arte morta. Vivencias a arte e estarás liberto.

3.
Saiba, eu ainda tenho pena de ti. Andas por aí fingindo amizades. Se pudesse me ouvir, levantarias a sobrancelha de sobressalto e me perguntarias:  - fingindo? Eu vos responderia: - Sim, meu "amigo", frise-se, amigo entre aspas, você sai escutando a todos e criando uma falsa intimidade falando de ti apenas o superficial. O mais raso de ti desabafas entre risos. O profundo levas do outro que desnuda a alma pra ti. E tua alma? Quando permitirás que adentrem nas entranhas de tua alma? Aprendes com o outro, não nego. Mas não sai do teu controle. E novamente irás dizer que é pura emoção e se entregas ao sentimento de comunhão entre pessoas. Teimas. Teimas em não se perceber. Já dizia o poeta, meu jovem, as emoções são como cavalos selvagens. E teimas, teimas em falar em emoção, quando teu cavalo anda bem seguro na rédea. Respire fundo, lave o rosto e se olhe no espelho. A verdade sempre cai bem em vidas monótonas. A tua monotonia não te inquieta? Uma vez sentida a fina e doce ligação entre almas, fugir é morrer em vida. Viverás da saudade do que nunca tivestes? Se bem que a nostálgica melancolia de um tempo que nunca se viveu tem sua beleza.
Agora já não sinto tanta pena de ti, porque sei que sentes pena de mim também.
Quimera.
Um barquinho no mar sendo levado pela onda.
 

                                                                                     By Aranda l”

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